"Formalmente, foram dez anos
de militância real, nos espaços públicos e nas ruas, e virtual, na blogosfera e
nas redes sociais, no melhor e mais rico período da história do PT: a Era Lula
e Dilma. Com a conquista da Presidência da República, em 2002, transformamos o
Brasil em um país de todos, nos dois mandatos do companheiro Lula. No terceiro
mandato, em andamento, assumimos o desafio de reafirmar ao mundo que país rico
é país sem pobreza, na gestão da companheira Dilma, de origem trabalhista como
eu.
Com tristeza, pude acompanhar a descaracterização do PT como um partido dos trabalhadores em São Borja. Algumas decisões partidárias praticamente reeditaram os atos institucionais da ditadura militar. (...) Fomos cassados, expulsos, suspensos e impedidos de participar das eleições internas deste ano por termos feito antes o que aqueles que nos cassaram, expulsaram, suspenderam e impediram nossa participação na vida do Partido estão fazendo agora." (Eduardo Martinez)
Com tristeza, pude acompanhar a descaracterização do PT como um partido dos trabalhadores em São Borja. Algumas decisões partidárias praticamente reeditaram os atos institucionais da ditadura militar. (...) Fomos cassados, expulsos, suspensos e impedidos de participar das eleições internas deste ano por termos feito antes o que aqueles que nos cassaram, expulsaram, suspenderam e impediram nossa participação na vida do Partido estão fazendo agora." (Eduardo Martinez)
- Notícia que este Editor não gostaria de dar, mas que o faz por dever de ofício - e pela relevância e significado do gesto: o militante e dirigente do Partido dos Trabalhadores de São Borja/RS, companheiro Eduardo Martinez (que é jornalista, acadêmico da Unipampa - Relações Públicas - e também Editor do ótimo blog Carteiro do Poeta, que anda hoje meio 'encarangado'), anunciou ontem sua saída do PT.
Os motivos apresentados pelo Eduardo (foto) estão elencados na Carta Aberta encaminhada ao DM do PT de São Borja (que postamos a seguir, para conhecimento - e reflexão -, sobretudo dos petistas e simpatizantes).
Leiam e tirem suas conclusões. (Júlio Garcia)
Os motivos apresentados pelo Eduardo (foto) estão elencados na Carta Aberta encaminhada ao DM do PT de São Borja (que postamos a seguir, para conhecimento - e reflexão -, sobretudo dos petistas e simpatizantes).
Leiam e tirem suas conclusões. (Júlio Garcia)
'São Borja, 23 de
Julho de 2013.
Prezado companheiro
de luta
Sindicalista PAULO
OMAR DE PAULA IBAIRRO
Presidente Municipal
do Partido dos Trabalhadores
São Borja, RS
Meu caro presidente e fraterno
amigo.
Por este
meio, comunico e solicito a minha desfiliação do Partido dos Trabalhadores.
As razões
que me levaram a esta decisão certamente são conhecidas pelos petistas
são-borjenses que respeitam os documentos históricos do PT, particularmente, o
Manifesto de Fundação, a Carta de Princípios e o Código de Ética.
A princípio pensei em apenas enviar
um ofício formal, lacônico. Mas depois cheguei à conclusão de que diante das
conquistas do povo brasileiro e são-borjense neste período, como nunca antes na
história deste país e desta cidade, não poderia sair do PT sem pelo menos fazer
uma pequena análise da conjuntura. Uma prestação de contas políticas à minha
consciência, dedicada aos companheiros de luta conscientes do seu papel neste
momento histórico.
Antes de tudo, quero destacar meu
reconhecimento ao presidente pela sua posição digna e firme na defesa da
democracia e no respeito aos companheiros, tanto na divergência quanto na
convergência. Assim como a posição de outros companheiros que junto com o
presidente hoje formam uma minoria na Executiva e no Diretório municipais.
Também quero deixar claro que não guardo rancor dos companheiros mais
agressivos na defesa de suas convicções. Eu mesmo posso ter agido da mesma
forma sem perceber. Neste caso, peço desculpas a quem eu possa ter ofendido com
alguma coisa que eu tenha dito ou feito. Não é e nunca foi minha intenção
confundir luta política com briga pessoal.
Minha decisão passou por um longo
processo de amadurecimento. Tentei chamar a atenção para as questões locais e
procurei o apoio de companheiros de várias instâncias, correntes e campos
políticos do Partido na busca de soluções. Acreditei sinceramente, por um bom
tempo, que a situação de São Borja teria a imediata solidariedade de quadros
históricos do PT. Falo de pessoas reconhecidas com justiça pelo combate
permanente contra qualquer injustiça ou mal feito. Pensava assim daqueles que
se manifestaram publicamente contra as más companhias ou protestaram contra as
cassações e as condenações políticas dos destituídos de Gravataí ou das vítimas
do domínio do fato no mensalão. Para citar apenas dois dos episódios mais
conhecidos.
Em São Borja, a raiz e o tronco
ideológicos, as ramificações e a folha de serviços prestadas à sociedade,
representadas pelas concepções teóricas e pela prática política originais do
Partido dos Trabalhadores, a meu ver, têm sido descaracterizadas. Parece que a
árvore foi arrancada pela raiz da sua base orgânica para que seus frutos
satisfaçam apenas o interesse de pessoas nas correntes e nos grupos. Não há
mais relação com os movimentos sociais. As associações comunitárias, os
assentamentos e os acampamentos agora parecem vizinhos distantes da sede e do
coração dos petistas. Os sindicatos foram amputados do organismo partidário e
os sindicalistas parecem órfãos políticos. A democracia participativa foi
substituída por uma espécie de democracia preventiva na qual as decisões são
tomadas antes para evitar que sejam modificadas pela construção coletiva.
O Partido dos Trabalhadores estaria deixando de ser um partido dos trabalhadores?
Para contribuir com essa reflexão,
destaco algumas ideias centrais de documentos históricos do PT como o Manifesto
de Fundação, a Carta de Princípios e o Código de Ética.
Do
Manifesto
O Partido dos
Trabalhadores nasceu da vontade de independência política dos trabalhadores
cansados de servir de massa de manobra para os políticos. Por isso protestam
quando veem o partido sendo formado de cima para baixo. Somos um Partido dos
Trabalhadores, não um partido para iludir os trabalhadores. O PT não deve atuar
apenas nos momentos das eleições. Queremos uma estrutura interna democrática
permanente, apoiada em decisões coletivas e cuja direção e programa sejam
decididos pelas bases.
Da Carta de Princípios
Não acreditamos
que partidos dirigidos pelas elites políticas, ainda que ostentem fachadas
democráticas, possam propiciar o acesso à plena participação política a seus
militantes. A existência do PT responde à necessidade que os trabalhadores
sentem de um partido que se construa intimamente ligado ao processo de
organização popular, nos locais de trabalho e de moradia.
Do Código de Ética
O nosso
compromisso partidário implica reconhecer que a legitimidade dos resultados
decorre também da legitimidade dos meios. Ninguém poderá estar acima das exigências
éticas e das decisões democraticamente aprovadas pelas instâncias partidárias.
Pleno respeito ao direito da divergência e de defesa. Supremacia dos interesses
partidários sobre os interesses particulares, das tendências, das correntes ou
dos grupos internos.
Após uma longa trajetória de
militância política de esquerda, a partir do trabalhismo histórico, iniciada na
campanha para eleger o primeiro prefeito de São Borja depois da ditadura, em
1985, entusiasmado por esses princípios, decidi me filiar ao PT em 2001. Já
nessa época, uma disputa interna protagonizou um curioso extravio de fichas de
um grupo de novos filiados e muitos tiveram que realizar nova filiação. Diante
desse episódio, minha filiação oficial passou a ser com a data de 27 de setembro
de 2003. Dois anos depois.
Formalmente, foram dez anos de
militância real, nos espaços públicos e nas ruas, e virtual, na blogosfera e
nas redes sociais, no melhor e mais rico período da história do PT: a Era Lula
e Dilma. Com a conquista da Presidência da República, em 2002, transformamos o
Brasil em um país de todos, nos dois mandatos do companheiro Lula. No terceiro
mandato, em andamento, assumimos o desafio de reafirmar ao mundo que país rico
é país sem pobreza, na gestão da companheira Dilma, de origem trabalhista como
eu.
Com tristeza, pude acompanhar a
descaracterização do PT como um partido dos trabalhadores em São Borja. Algumas
decisões partidárias praticamente reeditaram os atos institucionais da ditadura
militar. A cassação dos meus direitos políticos, e de outros companheiros,
representada pela minha substituição no Diretório e na Executiva municipais sem
a devida previsão estatutária ou mesmo qualquer registro de prática semelhante
em alguma instância do PT, foi uma delas. A decisão acabou sendo mantida por
consenso pela Executiva Estadual. Fui considerado culpado, com outros
companheiros, pelo crime político de divergir do comando de uma chapa
construída por acordo entre correntes e coletivos internos, da qual fiz parte.
Não há como não comparar o que
aconteceu aqui com a nomeação dos deputados biônicos pela ditadura, em
substituição aos cassados pelo regime, com a finalidade de construir uma
maioria artificial no parlamento, controlar com mão de ferro os nomeados e
lançar uma fachada de democracia sobre um jogo de cartas marcadas. Um equívoco
histórico gigantesco de companheiros que provavelmente desconhecem a história
do PT e a luta do povo brasileiro contra a ditadura.
Isso aconteceu porque vencemos no
voto duas vezes a mesma disputa e alteramos a correlação de forças dentro do
Partido. A primeira vitória democrática aconteceu na reunião do Diretório
Municipal realizada no histórico Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da
Alimentação. O campo majoritário até então, alegando não ter sido comunicado,
enviou ao local um representante e apresentou um recurso pedindo a anulação da
reunião antes que ela ocorresse. Ora, como é possível alegar não ter
conhecimento a respeito de uma reunião e enviar um representante ao local antes
do início dos trabalhos para pedir a anulação de uma decisão que ainda não foi
tomada? É a democracia preventiva para evitar a democracia participativa, da
qual falei antes.
Mesmo com
essa alegação sem fundamento a reunião foi anulada pela Executiva Estadual, que
convocou nova reunião e nova votação, desta vez com a presença de observadores
estaduais. Vencemos outra vez no voto em reunião do Diretório Municipal
realizada no plenário da Câmara de Vereadores. O campo derrotado não desistiu.
Sem alternativa orgânica ou legal para alterar o resultado de mais uma decisão
coletiva legítima e incontestável, apresentou uma absurda substituição de
membros do Diretório para recompor sua maioria. Foram nomeados substitutos
biônicos no lugar dos cassados e o controle do Partido voltou ao mesmo
pragmatismo político de antes. A democracia preventiva tomou de assalto a
democracia participativa do protagonismo coletivo.
Mas ainda
era preciso dar o exemplo e desencorajar futuras tentativas de restaurar o
protagonismo coletivo. Então, após ter sido excluído do Diretório e da
Executiva municipais, virei um exilado político na vida partidária. Fui
expulso, junto com outros companheiros, sem o imprescindível processo na
Comissão de Ética, por decisão da nova maioria artificial do Diretório.
A
Executiva Estadual, desta vez, atendeu parcialmente um recurso interposto com a
finalidade de anular esta decisão e suspendeu a expulsão até a decisão final do
Diretório Estadual. Curiosamente, depois de vários adiamentos, a punição da
instância municipal foi transformada em suspensão das atividades partidárias
pelo período de seis meses por consenso no Diretório Estadual. Exatamente o
tempo necessário para impedir a minha participação, e a de outros companheiros,
no processo de eleições diretas internas deste ano, por tornar impossível o
cumprimento dos prazos necessários para participar do processo.
O motivo político dessa disputa
fratricida no PT são-borjense, é bom deixar claro, foi uma decisão da maioria
do Diretório Municipal, por duas vezes, reitero, de tirar o PT do isolamento
político e de uma conjuntura artificial na qual era preparada nas entrelinhas
uma verdadeira armadilha para o Partido. Na verdade, o que estava sendo
articulado nos bastidores era uma aliança com a direita, na qual o PT indicaria
o vice na chapa do PP nas eleições municipais de 2012. O isolamento era uma
tática para aprovar essa proposta de afogadilho como única alternativa de
sobrevivência e suposto fortalecimento do Partido.
A
negociação dessa aproximação com a direita não levava em conta os prejuízos
para o PT. Além de ressuscitar o PP na cidade, o acordo acabaria fortalecendo a
candidatura da direita ao Governo do Estado contra a reeleição do companheiro
Tarso. Nosso objetivo estratégico foi levar o Partido a compor imediatamente o
governo municipal do campo popular e democrático, comandado por um prefeito do
PDT à frente de uma ampla coligação composta por partidos da base dos governos
petistas e por algumas siglas de fora desse campo, mas pouco representativas na
cidade. Era nosso dever articular um movimento interno para evitar que o
Partido viesse a cair na arapuca que estava sendo armada às escondidas.
Agora, a mesma maioria biônica do PT
fez o que havia condenado antes: decidiu compor o mesmo governo municipal do
campo popular e democrático, comandado pelo mesmo PDT e composto pela mesma
coligação. Essa é a prova de que a nossa decisão foi a melhor para o Partido,
resultado de uma leitura política estratégica responsável e consequente.
Portanto, fomos cassados, expulsos,
suspensos e impedidos de participar das eleições internas deste ano por termos
feito antes o que aqueles que nos cassaram, expulsaram, suspenderam e impediram
nossa participação na vida do Partido estão fazendo agora.
Diante desse quadro, levado a efeito
pela ação de alguns e pela omissão de outros, incluindo quadros históricos do
PT, que protestam publicamente contra atos como esse externamente, mas não agem
da mesma forma quando eles acontecem dentro do PT, não me restou outro caminho a
não ser a desfiliação.
Saio de cabeça erguida e consciência
tranquila de um PT municipal artificial e inorgânico para continuar sendo
militante orgânico do projeto político representado pelo PT original e pelos
velhos e novos partidos históricos do campo popular e democrático. Continuo
minha militância de esquerda, mantendo e reafirmando o meu compromisso de
classe com a classe trabalhadora e na defesa do projeto político que está
transformando o Brasil, o Rio Grande e São Borja para sempre.
Aos companheiros de luta do PT deixo meu abraço sincero e fraterno.
Que a esperança vença o rancor da mesma forma que venceu o medo!
Até a
vitória sempre!
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