Caro companheiro Raul Pont:
Há alguns dias, você tornou publica sua
posição de não disputar novamente uma cadeira no parlamento. Na entrevista,
revela tua inconformidade com o crescente peso do poder econômico no processo
eleitoral e seus reflexos dentro do PT. Você afirma que o gesto é uma “espécie
de denúncia de que esse sistema está podre e dominado pelo poder econômico e o
será cada vez mais”.
Como te disse pessoalmente, sou
solidário ao conteúdo de tuas considerações. Inclusive, com a crítica à bancada
e à direção do partido, quando da votação do chamado “orçamento impositivo”,
desdobramento do indigno, corruptor e coronelista mecanismo das emendas
parlamentares.
Você tem razão quando afirma que as
jornadas de junho deste ano, além de levantarem reivindicações justas,
desnudaram a trava que é para a Nação, a permanência das atuais instituições
carcomidas, o que inclui o parlamento atual, mas não somente.
Mas, caro companheiro Raul, como você
mesmo diz, não descobrimos agora que esse sistema eleitoral é antidemocrático.
Um sistema, assim como muitos outros mecanismos institucionais do Estado
brasileiro, em larga medida herdado da ditadura militar e incorporado pela mal
chamada “constituinte cidadã” de 1986-88.
Você diz que sai do parlamento, mas não
da política; justo, e conclui dizendo que "ou nós conseguimos convencer um
grande numero de militantes que esse tipo de pratica é um câncer dentro do
partido, ou o partido vai morrer canceroso, e nós vamos ter que construir outro
e começar tudo de novo" (Carta Maior, 31.08.2013).
Qual seria a saída, “começar de novo”?
Não acho correto deixar no ar a insinuação de que a saída pode estar na porta
da rua. Haveria quem aplaudisse, dentro e fora do PT, entre nossos adversários
e inimigos. Mas isso seria abandonar os esforços (e a memória) daqueles que
construíram o PT, a primeira experiência de organização política independente
de massas da história dos trabalhadores brasileiros.
Qual será, então, a saída? Talvez
ninguém tenha a resposta pronta, completa, mas certamente não pode ser apenas
ajustar certas regras do PED {Processo de Eleições Diretas do PT}.
Caro companheiro Raul,
Gostaria de dialogar sobre o que
podemos fazer para tirar as consequências do que você diz.
Você não acha necessário abrir um combate para que o PT enfrente esse "sistema podre e dominado pelo poder econômico", como você diz, através da luta por uma Constituinte Soberana? Dando a palavra ao povo, uma Constituinte assim, democrática, unicameral e proporcional, poderia passar o país a limpo e abrir caminho para as mais profundas aspirações de justiça social e soberania nacional, realizar afinal, a reforma agrária, reestatizar as empresas privatizadas, destinar os recursos para os serviços públicos (carreados para o mercado financeiro) e terminar com todo tipo de discriminação e opressão.
Afinal, sem outras instituições, a
podridão continuará igual! E por que não uma Constituinte? Não pode ser porque
o PMDB é contra? Aliás, já passou da hora de acabar com a “aliança nacional com
o PMDB”, fiador dessas instituições carcomidas, que sabotou a proposta de
plebiscito para uma Constituinte, apresentada pela presidente Dilma.
E no próprio PT, para combater o
câncer, será possível "convencer" a maioria dos militantes para
reverter a doença? Mas convencer como, se no PED praticamente não tem discussão
com a esmagadora maioria de filiados e é basicamente arregimentação de votos?
Não seria preciso lutar para acabar com
esse PED, para voltar aos Encontros de delegados de base, onde o filiado
participa decidindo plataforma, discutindo tarefas e elegendo as direções?
Companheiro Raul, com o respeito que
devemos ter às nossas diferentes trajetórias, proponho avançar no debate, sem
nenhuma pré-condição.
Porto Alegre, 17 de setembro de 2013.
Laércio Barbosa
Membro da Direção Estadual do PT/RS e
Candidato a Presidente do PT/RS
...
*Nota do Blog: Laércio Barbosa integra
a corrente 'O Trabalho' do PT.
**Foto: Deputado Estadual Raul Pont,
Presidente do PT/RS.
-Via Blog do Júlio Garcia http://jcsgarcia.blogspot.com.br/
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