*Por Rômulo Vargas
Existe algo de irracional e desumano nas manifestações raivosas e preconceituosas que apareceram na mídia sobre a vinda para o Brasil dos médicos cubanos, que trabalharão principalmente em regiões longínquas do nosso país. Para compreender bem o Programa Mais Médicos do Governo Federal, é preciso se debruçar um pouco mais sobre ele, e também sobre o sistema de governo da ilha caribenha.
Ninguém pode negar, à luz da
razão, que faltam muitos profissionais
da medicina em nosso país, sendo que faltam ainda mais nas regiões mais
inóspitas. Não podemos negar que há um Conselho Nacional de Medicina que
restringe a abertura de novos cursos e novas universidades, o mesmo Conselho
que vem agora rechaçar a vinda de médicos do exterior. É sim do exterior, eles não vem apenas de Cuba,
mas sim de um sem número de países.
Analisando a fundo, este é um
grande passo para o avanço do nosso sistema de saúde. Grande não apenas por trazer para
cá mais profissionais que estão dispostos a ir aos mais distantes grotões,
favelas e florestas que este país continental país apresenta. Grandes ´também são esses médicos, e aí me refiro principalmente aos formados em Cuba, dedicados a atender essa
população que os nossos profissionais nativos rejeitaram.
Precisamos entender ademais
outro ponto importante e que referenda ainda mais os doutores da ilha
caribenha. Como Cuba é uma ilha socialista, livre do privado, e que não coloca
o capital em primeiro lugar, temos toda uma estrutura governamental, acadêmica,
e profissional diferente da que conhecemos aqui. Cuba forma profissionais não só para atender aos cubanos, mas também para
atender o povo pobre dos países periféricos, para ir aos bairros, as favelas, aos confins do mundo.
Forma profissional para ir às casas, para sentar a mesa, pra atender gente e
ser gente. Forma profissionais preparados para trabalhar pelo Estado, para a
população, não para estabelecerem consultórios particulares e enriquecerem a
custa da saúde alheia.
Ainda há que se analisar outra
questão importante. O sistema de saúde cubano, um dos melhores do mundo,
preocupa-se prioritariamente com o atendimento preventivo. Diferentemente do
que conhecemos os médicos cubanos são preparados para tratar as complicações
com tratamentos definitivos, e não como na sociedade capitalista que se preocupa
em cuidar dos sintomas, abranda-los e medica-los, para que o paciente volte a
ter que consumir medicamentos, ou então tenha que retornar aos consultórios
para tratar o mesmo problema ou um novo originário do tratamento que foi
aplicado para tratar o primeiro. Ora, a indústria farmacêutica não pode
quebrar, ela precisa sempre de novos e novos pacientes. Assim como os médicos
para manterem seus consultórios particulares e assim seus status na alta
sociedade. O médico capitalista não atende por que a sociedade precisa, mas por
que ele precisa dela para justamente estar acima dela. Triste!
Mas ai tem sempre aqueles que
ainda não compreenderam a ideia de socialismo e perguntam o porquê de o governo
pagar para o governo cubano o salário que só depois é repassado aos médicos que
estão aqui no Brasil. Ora isso é o socialismo, a divisão de riquezas entre
todos. Se os profissionais são formados pelo Estado, e no Estado não existe o
privado, apenas o social, estes vem ao Brasil como serviço exportado pelo
Estado em solidariedade com os povos que carecem destes serviços. O governo
então recebe os seus salários lhes paga como médicos cubanos e compartilha com
a sociedade que os formou, e lhes deu uma profissão o restante da verba que o
governo brasileiro lhes oferece. Mas ainda há os que dirão que Cuba vive uma
ditadura e que vive em miséria.
Ora quem somos nós pra falar
em ditadura! Nós que depois de pouco mais de vinte anos de retorno a
“democracia” ainda não somos reféns do capital. Nosso sistema eleitora é piada,
temos mais de 70% de nossos parlamentares eleitos a custa do interesse de
grandes corporações que em nada se preocupam com o interesse da população. Nós
somos reféns do capital. Se Cuba não é ainda o perfeito modelo de socialismo, é
uma sociedade sem berrantes desigualdades sociais. Sem analfabetos, com
baixíssimos índices de mortalidade infantil e com índice de desenvolvimento
humano superior a de países considerados desenvolvidos.
É preciso que se explique o
porquê de Cuba não estar melhor ainda em sua situação econômica e social, e
isso se explica com apenas duas palavras: o embargo econômico, o boicote permanente orquestrado pelos Estados Unidos da América e demais países com eles alinhados.
A ilha sofre desde a década de
60 com as mazelas que as restrições, financeiras, econômica e principalmente
comerciais impostas pelos vizinhos estadunidenses. Esta é uma questão que se
estende degradando o povo cubano e subestimando sua soberania de nação
independente e infringe os direitos de não intervenção e não interferência em
seus assuntos internos. Cuba é obrigada a se render aos caprichos do
capitalismo estrangeiros, que já lhes causaram desde 2005 mais de 90 bilhões de
dólares de prejuízo, valor este que poderia ter sido dividido a todo povo
cubano.
É fácil pra quem está de fora,
ou acostumado a se dobrar perante os interesses do capital, ou ainda alienados da realidade e vulneráveis, portanto, à propaganda maliciosa da mídia conservadora, criticar um povo que
se preocupa com o vizinho que esta ao lado. É triste também vermos alguns - na verdade uma pequena parcela - médicos brasileiros que envergonharem seu país quando
colocam seus interesses econômicos diante do bem comum, manifestando-se contra seus colegas, e mesmo se recusando a
ir para as localidades onde há maior carência; e, ainda, quando não 'protestam' às claras, torcem o nariz quando o governo busca
alternativas como a criação de universidades, cursos e traz de profissionais de
fora.
Hermanos, desculpem essas pessoas que tanto têm a aprender com Cuba e seu
povo.
Médicos cubanos, sejam tod@s muito bem vindos!
*Rômulo Vargas (foto) é santiaguense. Integra o DM do PT/Santiago. Trabalha como Assessor Parlamentar
Muito certas tuas palavras, parabéns, Sejam bem vindos médicos CUBANOS. abraço
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