Poema
de sete faces
Quando
nasci, um anjo torto
desses
que vivem na sombra
disse:
Vai, Carlos! ser gauche na vida.
As
casas espiam os homens
que
correm atrás de mulheres.
A
tarde talvez fosse azul,
não
houvesse tantos desejos.
O
bonde passa cheio de pernas:
pernas
brancas pretas amarelas.
Para
que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém
meus olhos
não
perguntam nada.
O
homem atrás do bigode
é
sério, simples e forte.
Quase
não conversa.
Tem
poucos, raros amigos
o
homem atrás dos óculos e do bigode,
Meu
Deus, por que me abandonaste
se
sabias que eu não era Deus
se
sabias que eu era fraco.
Mundo
mundo vasto mundo,
se
eu me chamasse Raimundo
seria
uma rima, não seria uma solução.
Mundo
mundo vasto mundo,
mais
vasto é meu coração.
Eu
não devia te dizer
mas
essa lua
mas
esse conhaque
botam
a gente comovido como o diabo.
Carlos Drummond de Andrade (Alguma poesia, 1930)
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