segunda-feira, 24 de julho de 2017

Por que a direita não quer que filhos de pobre estudem



(Se depender da direita, jamais)

Por Pedro Breier*

O prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Júnior, do PSDB, vem tomando medidas que têm o claro intuito de destruir a educação pública da capital gaúcha.

Sua última violência foi a suspensão das matrículas do EJA (Educação de Jovens e Adultos) em nada menos do que 33 escolas que oferecem a modalidade. Somente uma escola vai receber matrículas, ou seja, muita gente vai deixar de estudar. Alex Fraga, professor da rede pública e vereador pelo PSOL em Porto Alegre, explica com mais detalhes as monstruosidades de Marchezan no Sul 21.

A tentativa de desmonte da educação pública é um padrão em governos de direita.

O sociólogo Jessé de Souza deixou evidente, em um bate-papo com jornalistas na semana passada, que a importância do conhecimento ou capital cultural no capitalismo é tão grande quanto a do dinheiro.

“Sem pensamento propositivo não há visão racional da vida”, afirmou. Jessé explicou que o pai de classe média lê, a mãe conta histórias, instigando a imaginação dos filhos. Os filhos dos pobres brincam com o carrinho de mão do pai. É assim que se constrói uma classe. Quando chegam na fase escolar, as crianças já estão em plena competição.

Mais algumas frases preciosas de Jessé: “Capacidade de concentração não existe para quem não foi estimulado a isso”. “Uma classe rouba o tempo da outra a preço vil: a empregada doméstica limpa, alguém traz a pizza, a babá cuida dos bebês, o que faz com que sobre mais tempo ainda para a preparação da classe média/alta”.

Falar em meritocracia quando a competição é tão profundamente desigual – desde o nascimento! – é nojento. O PSDB, representante orgânico da direita brasileira, sabe muito bem disso tudo.

Seu projeto é manter quem pena para sobrevier – a maioria dos brasileiros – sem estudar mesmo, no máximo completando um ensino médio de péssima qualidade e olhe lá. Dessa forma o capital cultural/conhecimento permanecem restritos às classes média e alta e o Brasil continua sendo um paraíso de mão de obra barata, para alegria do grande empresariado.

O fato de que parte da população pobre que não estuda acaba indo para a marginalidade e para o crime é mais um bônus para a direita. Sem um contingente enorme de miseráveis que viram criminosos, quem seriam os inimigos da sociedade, expostos ao ódio geral por Datenas e quejandos?

Os que destroem a possibilidade de um futuro digno da ralé, como Jessé de Souza se refere, provocativamente, à classe baixa, têm é medo de serem descobertos. Precisam criar um inimigo para que as pessoas se distraiam e não incomodem os verdadeiros bandidos.

A frase clássica de Darcy Ribeiro é certeira: “a crise da educação no Brasil não é uma crise, é um projeto”.

*Pedro Breier, colunista d'O Cafezinho, é formado em direito mas gosta mesmo é de jornalismo (e de AC/DC). Nasceu no Rio Grande do Sul e hoje vive em São Paulo.

http://www.ocafezinho.com

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