(Se depender da direita, jamais)
Por Pedro Breier*
O prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Júnior, do
PSDB, vem tomando medidas que têm o claro intuito de destruir a educação
pública da capital gaúcha.
Sua última violência foi a suspensão das matrículas do EJA
(Educação de Jovens e Adultos) em nada menos do que 33 escolas que oferecem a
modalidade. Somente uma escola vai receber matrículas, ou seja, muita gente vai
deixar de estudar. Alex Fraga, professor da rede pública e vereador pelo PSOL
em Porto Alegre, explica com mais detalhes as monstruosidades de Marchezan
no Sul
21.
A tentativa de desmonte da educação pública é um padrão em
governos de direita.
O sociólogo Jessé de Souza deixou evidente, em um bate-papo
com jornalistas na semana passada, que a importância do conhecimento ou capital
cultural no capitalismo é tão grande quanto a do dinheiro.
“Sem pensamento propositivo não há visão racional da vida”,
afirmou. Jessé explicou que o pai de classe média lê, a mãe conta
histórias, instigando a imaginação dos filhos. Os filhos dos pobres brincam com
o carrinho de mão do pai. É assim que se constrói uma classe. Quando
chegam na fase escolar, as crianças já estão em plena competição.
Mais algumas frases preciosas de Jessé: “Capacidade de
concentração não existe para quem não foi estimulado a isso”. “Uma classe rouba
o tempo da outra a preço vil: a empregada doméstica limpa, alguém traz a pizza,
a babá cuida dos bebês, o que faz com que sobre mais tempo ainda para a
preparação da classe média/alta”.
Falar em meritocracia quando a competição é tão
profundamente desigual – desde o nascimento! – é nojento. O PSDB, representante
orgânico da direita brasileira, sabe muito bem disso tudo.
Seu projeto é manter quem pena para sobrevier – a maioria
dos brasileiros – sem estudar mesmo, no máximo completando um ensino médio de
péssima qualidade e olhe lá. Dessa forma o capital cultural/conhecimento
permanecem restritos às classes média e alta e o Brasil continua sendo um
paraíso de mão de obra barata, para alegria do grande empresariado.
O fato de que parte da população pobre que não
estuda acaba indo para a marginalidade e para o crime é mais um bônus para
a direita. Sem um contingente enorme de miseráveis que viram criminosos, quem
seriam os inimigos da sociedade, expostos ao ódio geral por Datenas e
quejandos?
Os que destroem a possibilidade de um futuro digno da ralé,
como Jessé de Souza se refere, provocativamente, à classe baixa, têm é medo de
serem descobertos. Precisam criar um inimigo para que as pessoas se distraiam e
não incomodem os verdadeiros bandidos.
A frase clássica de Darcy Ribeiro é certeira: “a crise da
educação no Brasil não é uma crise, é um projeto”.
*Pedro Breier, colunista d'O Cafezinho, é formado em direito
mas gosta mesmo é de jornalismo (e de AC/DC). Nasceu no Rio Grande do Sul e
hoje vive em São Paulo.
http://www.ocafezinho.com
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