Apartado de outros presidentes e isolado, presidente brasileiro não tem mais o que dizer ao mundo |
São Paulo – RBA - Por Eduardo Maretti - Sem
reuniões bilaterais e depois de hesitar entre ir ou não à cúpula do G-20 em
Hamburgo, na Alemanha, o presidente brasileiro, Michel Temer, é um retrato
pálido e melancólico de um governo que praticamente não representa mais nada
para as nações mais importantes do mundo.
"No governo Temer, a perda
de espaço e de relevância do Brasil no concerto das nações é muito aguda. E,
convenhamos, o atual governo não tem muito como aumentar sua participação, já
que é extremamente questionado dentro de casa. Qual é o dignatário ou líder
estrangeiro que vai fazer um acordo com um presidente que não se sabe se na
semana que vem vai estar no cargo?", avalia Thomas Heye, professor
do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (UFF).
"O governo Temer está em
estado terminal. Em termos de G-20, os presidentes e líderes já têm a percepção
de que Temer não representa o país", afirma Miriam Gomes Saraiva,
pesquisadora do departamento de Relações Internacionais da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Apartado de outros presidentes e isolado, o
chefe de Estado brasileiro "não tem muito mais o que dizer", na
opinião da professora.
Ela lembra que quando ele foi à
Noruega, na terceira semana de junho, a primeira-ministra Erna Solberg fez
referência explícita ao status do governo brasileiro naquele momento, às
vésperas da denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o peemedebista.
"Estamos muito preocupados com a Lava Jato. É importante fazer uma
limpeza", cutucou a norueguesa.
Para piorar a imagem brasileira
perante o mundo, Temer declarou para toda a imprensa internacional ouvir – reforçando
a percepção de seu autismo – que tudo está bem no país que governa.
"Não existe crise econômica no Brasil", disse
ele na Alemanha. "Parece que ele está bem divorciado da realidade do
país", ironiza Thomas Heye.
Se a situação atual é o
presidente do Brasil ser encarado como chefe de um governo terminal, um novo
governo com o atual presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia
(DEM-RJ), à frente, poderia apontar para novos rumos da política externa?
"Se Temer cair e Rodrigo Maia assumir, não. Nesse caso, a única coisa que
vamos fazer é manter as coisas do jeito que estão até 2018. Não tem espaço para
iniciativas diplomáticas no atual cenário", diz Heye.
Miriam anota que Maia, em termos
de política externa, pertence a um grupo de pensamento bastante próximo aos
atuais gestores da política externa, que ideologicamente transitam do DEM ao
PSDB. "O governo Temer delegou a formulação da política externa, primeiro,
a José Serra, e depois a Aloysio Nunes." Assim, a professora calcula que,
se Maia substituir Temer, o próprio Aloysio Nunes poderia seguir no cargo.
Ironicamente, o termo "anão
diplomático", utilizado pela diplomacia israelense ao se referir ao Brasil
de Dilma Rousseff, quando a presidenta chamou para consultas seu embaixador em
Tel Aviv em 2014, é uma expressão exata para definir o Brasil de hoje.
"A nossa política externa não reflete um país que está entre as dez
maiores economias do mundo e que é a maior potência regional na América do Sul.
Com o Executivo extremamente fragilizado e uma crise permanente dentro do país,
não tem como articular uma política externa no momento", avalia Heye.
Brics
A professora da Uerj acredita
que, apesar dos percalços da política externa brasileira, a importância do
Brasil no Brics – bloco do qual faz parte junto com Rússia, Índia,
China e África do Sul – se mantém, pelo menos por enquanto.
"O governo Dilma investiu
muito no Brics. Houve a criação do Banco dos Brics, no final do primeiro
mandato. O afastamento do Brasil data da mudança de governo para o governo
Temer. Mas, até o momento, o que os países estão fazendo é deixar o Brasil como
em banho-maria. Se o governo Temer continuar e a situação de crise se alongar,
pode chegar o momento em que o Brics talvez não tenha mais interesse na
participação brasileira. Mas até 2018, que é o limite do governo Temer, acho
que eles esperam", acredita Miriam Gomes Saraiva.
A professora considera relevante
observar que o representante brasileiro no Banco dos Brics, hoje, Paulo
Nogueira Batista Junior, vice-presidente da instituição, é o mesmo do governo
Dilma. "O próprio governo brasileiro evitou mexer no Brics. O ativismo do
representante brasileiro prossegue no banco, à espera de um governo mais
definitivo."
Nenhum comentário:
Postar um comentário