sexta-feira, 8 de julho de 2011

Velha mídia: O último escândalo do News of the World

Jornal de Murdoch escandaliza o mundo
                                                          
                                                                 José Dirceu*  escreve:
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Vários ingredientes levam a crer que estamos tratando de um romance policial de qualidade duvidosa: grampos ilegais, propinas a policiais, invasão à caixa de mensagens telefônica de uma menina de 12 anos que já havia sido seqüestrada e morta. Entretanto, o caso é real. Ele envolve o magnata Rudolph Murdoch e seu monopólio midiático.

O tablóide mais lido na Inglaterra, News of the World, com uma circulação diária de 2,8 milhões de exemplares, que fez sua história explorando o escândalo alheio, ganhou hoje as páginas dos principais jornais europeus com um escândalo em que seus próprios jornalistas e executivos são os protagonistas. O jornal, do grupo de Murdoch, agora é alvo de uma investigação por parte da Scotland Yard.

Entre os delitos cometidos, o que mais indignou a população foi o fato de o News of the World ter sido o responsável por mensagens apagadas da caixa postal do celular da menina Milly Downer, desaparecida em 2002, e encontrada, mais tarde, assassinada. O ato foi promovido para que novas mensagens pudessem entrar na caixa postal hackeada e, assim, serem monitoradas. No entanto, a movimentação na caixa postal da criança assassinada levou a família a crer que ela ainda estaria viva.

Lista iclui parlamentares

Na vil lista de violações de privacidade, foram vítimas, ainda, membros da família real, congressistas, ex-combatentes do Afeganistão e vítimas da série de atentados no Reino Unido em julho de 2005.

O jornal espanhol El País, hoje, ressalta que o escândalo não é apenas uma crise mediática, mas também uma crise política de grande proporções. “Alguns parlamentares ensaiaram ontem seu mea culpa em um debate na Casa dos Comuns, em que muitos deles felicitaram o diário The Guardian e aos deputados trabalhistas Chris Bryant e Tom Watson por sua insistência em denunciar o que, para a maioria, não passava de uma teoria conspirativa”, publicou o periódico espanhol.
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Práticas aéticas do tablóide eram conhecidas

Magnata da mídia tinha participação política ativa... A respeito do escândalo do tablóide inglês sensacionalista News of the World, de acordo com o El País, a sua prática de “ética escassa” , que lançava corriqueiramente de grampos telefônicos era conhecida pelas autoridades desde 2003, a partir de denúncias feitas pela deputada Rebekah Brooks – à época, Rebekan Wade – ex-executiva do grupo News Corporation, ao qual o The News of the World pertence.

A Scotland Yard já admite que alguns policiais receberam "pagamentos inapropriados" do periódico. A crise que eclodiu com as denúncias contra o The News of the World está pesando para Murdoch. O magnata é conhecido por sua participação ativa na política local, por meio de seus jornais. O trabalhista Neil Kinnock credita ao empresário a sua derrota nas eleições de 1992. No dia do pleito, um de seus jornais, The Sun, fez o pedido na primeira para que, em caso de Kinnock ganhar, a última pessoa que deixasse a Grã Bretanha "apagasse as luzes".

As investigações da Scotland Yard coincidem com o momento em que o grupo de Murdoch tenta comprar o canal de TV paga britânico BSkyB por aproximadamente US$ 14 bilhões. A repercussão também está tendo impacto junto aos patrocinadores. Várias empresas como a cooperativa Co-op, Ford, Vauxhall, Mitsubishi, o banco Lloyds e o Virgin Holidays já anunciaram que suspenderão suas campanhas no jornal.

Aqui, no Brasil...


O caso do tablóide de Murdoch suscita, aqui, no Brasil, algumas considerações. Tanto cá, como lá, há jornais e jornalistas que invadem impunemente a privacidade. E o acesso a informações protegidas por lei é feito via polícia, ou Ministério Público, apesar do segredo de justiça e do sigilo. A Globo, por ocasião da operação Satiagraha, é um exemplo local dessa mesma prática.

A pergunta que fica não é nova: até quando vamos conviver com essa ilegalidade no Brasil? Será que vamos chegar ao estágio da Grã Bretanha? Na Grã Bretanha, ao menos, a mídia assume a quem apóia politicamente. Aqui, com a maior hipocrisia, boa parte dos jornais diz-se neutro, mas faz oposição ao PT.

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*Ex-deputado, ex-Ministro,  membro da Direção Nacional do PT, Editor do Blog do Zé Dirceu: http://www.zedirceu.com.br/

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