sábado, 24 de maio de 2014

Carta aos companheiros presos



José Genoíno, José Dirceu, Delúbio Soares e João Paulo Cunha foram condenados sem provas porque fazem parte de uma história que incomoda.

Por Hamilton 'Pedro Tierra' Pereira, na Carta Maior*

A aventura de construir um partido de base popular que viesse a representar de maneira independente os interesses dos trabalhadores na sociedade brasileira, ainda sob a ditadura empresarial-militar imposta ao país pelo golpe de abril de 1964, percorre a esta altura, cerca de três décadas e meia. Se pensarmos bem, tempo relativamente curto, considerados os cinco séculos desde o desembarque dos colonizadores portugueses nesses trópicos. 

Depois das grandes mobilizações sociais catalisadas por S. Bernardo do Campo, no final dos anos 70, e das históricas assembleias do Estádio de Vila Euclides, o 10 de fevereiro de 1980, reuniu, no Colégio Sion, sob os olhos distraídos das velhas elites oligárquicas, vencedoras em 1964 e algum nervosismo das novas elites nutridas pela ditadura empresarial-militar, variadas vertentes dos movimentos populares e sindicais que resistiram a ela para constituir sob a liderança dos operários do ABC um instrumento que organizasse e unificasse sua ação.

Estavam amadurecidas as condições para dar forma a um organismo que representasse as aspirações de uma classe social que estava incluída, como mão-de-obra, no setor de ponta da economia – a indústria automobilística – mas excluída da arena política, que se revelou capaz pelo instrumento das greves, das mobilizações de massas e da ação parlamentar de estabelecer alianças com diferentes setores sociais para por abaixo uma tirania já em declínio.

A reforma política articulada para dividir as oposições à ditadura empresarial-militar percebeu o PT como um acidente, um ovo indesejado na incubadora do general Golbery. O PT foi diagnosticado inicialmente como um incômodo a ser digerido e eliminado pela repressão pura e simples ou pela própria dinâmica do metabolismo institucional da transição pelo alto engendrada por seu principal estrategista.

Ao forçar as portas daquele sistema político concebido para abrigar as disputas, sob estrito controle da legislação emanada do regime ditatorial, entre os grandes senhores da indústria, das finanças, do agronegócio nascente e dos antigos monopólios de comunicação nutridos pelo regime, o Partido dos Trabalhadores cometeu um crime.

O crime original de ter nascido

Com voz própria, ainda que desafinada, mas vigorosa, por liberar uma polifonia, àquela altura irreprimível, de reivindicações, desejos, esperanças, agredia com seu timbre dissonante os ouvidos de uma sociedade alfabetizada pelo silêncio. A campanha pelas “Diretas Já”! mobilizou milhões de vozes em torno da proposta do Deputado Dante de Oliveira. Se não venceu de imediato, sacudiu irremediavelmente os alicerces do regime. Com os movimentos sociais em ascensão, sua base primeira, o PT se consolidou como expressão política dos de baixo e como projeto alternativo de desenvolvimento para o Brasil. (...)

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