Por Jeferson Miola, na Carta Maior
Depois da incandescência das
ruas em junho, análises apressadas pintavam um cenário de terra arrasada para a
Dilma. Foi incrível a seletividade de determinados analistas, que alardeavam o
pior dos mundos para a Presidenta, mas omitiam que a insatisfação era generalizada
e difusa, e abarcava todo o sistema político, a política, os governos e os
políticos.
Passado o rescaldo daqueles
acontecimentos, sucessivas pesquisas de opinião indicam um ambiente de melhora
do desempenho eleitoral de Dilma. Em todas as simulações - de todos os
institutos de pesquisa -, a Presidenta ostenta considerável chance de
reeleição, inclusive no primeiro turno.
A oposição, entretanto,
segue colecionando dificuldades. Para ela, o cenário mais alentador é,
curiosamente, aquele no qual figuram as “candidaturas-sombras” de Marina Silva
e José Serra. Os até agora “candidatos titulares” Eduardo Campos e Aécio Neves
peleiam com seus fantasmas para manterem suas candidaturas, podendo chegar em
2014 menores do que são hoje.
A potencial reeleição de Dilma,
que culminaria um ciclo de 16 anos de governos dirigidos pelo PT, levará o
reacionarismo capitaneado pelo PSDB, PPS e DEM ao ocaso. Com sua visão de um
país arcaico, excludente e colonizado, aqueles partidos perdem a capacidade de
interpretação e de aderência ao Brasil contemporâneo. A profecia deles, do “fim
da raça”, finalmente terá se realizado; porém, com as setas invertidas – em
desfavor deles mesmos.
Nesse contexto, a
candidatura do Aécio é tão sólida quanto a chance de se converter em pó. O PSDB,
pela primeira vez na trajetória do partido, enfrenta a perspectiva real de uma
derrota acachapante no próximo ano. Para os tucanos [mas também para seus
satélites PPS e DEM], a eleição de 2014 terá como prioridade a sobrevivência
partidária e a preservação dos espaços de poder ameaçados de mudar de guarda.
Não se pode descartar, por
isso, a hipótese da candidatura presidencial de José Serra em lugar da de
Aécio. Alckmin e Aécio teriam, assim, a função de proteger a jóia da coroa do
PSDB: os governos de SP e MG. Aliás, uma tarefa difícil, para quem terá de se
explicar sobre escândalos escabrosos: cartel do metrô e o genuíno mensalão.
Adicionalmente, outros dois
espectros rondam as eleições. O primeiro, de nome Joaquim Barbosa. Sua
candidatura, se confirmada, materializaria eleitoralmente o bloco de poder
conformado pela mídia conservadora e setores reacionários do Judiciário. É esse
bloco que, na realidade, agenda e articula o combate ideológico ao PT e ao
governo Dilma, substituindo os partidos da direita, que estão aos frangalhos e
minguando sua audiência na sociedade.
Não existe espaço no Brasil
contemporâneo para uma nova farsa do gênero “caçador de marajás”. A Rede Globo
não conseguirá converter Joaquim Barbosa em um santo; aliás, um Ministro adepto
de manobras fiscais para investir em Miami. O império da família Marinho não
conseguirá construir essa nova mitificação da política brasileira, como fez com
Fernando Collor em 1989 para derrotar Lula.
A opção Joaquim será
calculada não pela aspiração de vitória com ele, mas como variável para levar a
eleição para o segundo turno. O contexto proclive para a ocorrência de segundo
turno é aquele que apresenta na cédula eleitoral os nomes de Dilma, Serra,
Marina e Joaquim. O justiceiro, jacobino, vingativo, exemplar e inexpugnável
Barbosa seria um veículo para se tentar barrar a reeleição direta de Dilma.
O outro espectro que ronda a
próxima eleição de 2014 atende pelo nome de Lula.
Com considerável insistência
é cogitada a candidatura dele em lugar da de Dilma; insinuação que se propaga
na base de apoio do governo, nos meios empresariais, no sistema financeiro e
junto a setores militantes. Os pretextos são uníssonos, tanto dentro como fora
do PT: a heterodoxia econômica e o estilo da Presidenta.
Embora o próprio Lula
rechace, essa insinuação paira no ar como uma bruma, fomentada na mídia pelas
manjadas “fontes próximas ao ex-Presidente”.
É problemático esse
procedimento, porque involuntariamente [ou deliberadamente?] expõe Dilma a
tensões conservadoras [e inclusive regressivas] na definição do programa e no
perfil do eventual segundo governo. Porém, ao mesmo tempo, não deixa de ser
cômodo para o governo – e terrível para a oposição - saber que pode contar com
um suplente eleitoralmente insuperável, caso a conjuntura econômica e política
degringole.
Hoy por hoy - como se diz em
castelhano -, a perspectiva é desalentadora para a oposição conservadora, que
vive o dilema de tentar sobreviver enfrentando uma tendência de derrota e de
definhamento de sua representação política. A realidade para a direita é tão
mais dramática quanto mais evidente é a obsolescência programática e a
incapacidade de oferecer uma visão generosa de futuro para um país que, não sem
importantes limites e contradições, finalmente passou a ingressar na
modernidade.
Devemos nos preparar para
uma conjuntura complicada até as eleições de 2014. A oposição não se dará por
vencida, e poderá promover um terrorismo político, econômico, moral e midiático
jamais visto na política brasileira. Não se pode menosprezar a capacidade de
sabotagem, de difusão de ódio e a vilania deles nessa luta derradeira de
sobrevivência. Eles querem sequestrar o Brasil dos brasileiros.
* Jeferson Miola é integrante
do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea); foi
coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial. (Enviado por e-mail)
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