Com uma aluninha na Escola da Vila |
Miruna. Poucas pessoas me impressionaram tanto, em 2013, quanto Miruna, a filha de Genoino.
As circunstâncias revelam a pessoa, sabemos todos. E no drama de seu
pai, perseguido implacavelmente por Joaquim Barbosa e defendido tibiamente pelo
PT, Miruna se mostrou um colosso.
Quem haveria de supor que por trás de uma jovem mulher tão doce e tão delicada
estava uma leoa? Sua ira santa passará para a história como um testemunho do
suplício ignominioso imposto a um homem que dedicou sua vida à luta por um país
socialmente justo.
O drama de Genoino tem extremos de caráter. De um lado, você tem Joaquim
Barbosa, impiedoso, vingativo, um homem que parece se comprazer no sofrimento
alheio.
Joaquim Barbosa é o antibrasileiro, a negação da índole generosa e
cordial dos filhos do Brasil. É também, para lembrar um grande morto destes
dias, o anti-Mandela. Joaquim Barbosa promove a discórdia, e Mandela
personificou a concórdia. Barbosa é um deslumbrado, um alpinista social.
Mandela conservou a simplicidade sempre, mesmo quando já era claro que fora um
dos maiores homens de seu tempo.
A Joaquim Barbosa, no caso de Genoino, se contrapõe Miruna. Se ele é um
exemplo negativo para os brasileiros, ela é o oposto. Miruna representa o que
há de melhor no caráter humano: a paixão pela justiça, a perseverança na defesa
de seus ideais, a devoção filial, a capacidade de se indignar diante de
absurdos.
Num plano maior, o que estamos vendo nas ações de Joaquim Barbosa e de
Miruna em torno de Genoino é o enfrentamento entre duas forças antagônicas.
Barbosa tem o poder. Miruna tem a verdade. Barbosa é o ódio. Miruna é o
amor. Neste tipo de luta, o veredito costuma ser dado pelo tempo. Ainda que o
poder prevaleça momentaneamente, a verdade se impõe com o correr dos longos
dias.
Miruna é, também, uma lembrança doída da falta de combatividade do PT. É
um embaraço para o partido que a voz que se ergueu valentemente contra a
perseguição cruel a Genoino seja a de Miruna, e não a de seus líderes.
A prioridade um, dois e três do PT é a reeleição de Dilma, e com isso
Genoino foi posto de lado. Talvez só seja efetivamente lembrado em caso de
morte.
Miruna tem razão em dizer que sente vergonha do seu país. Os inimigos
massacram seu pai. Os amigos se calam, ou emitem balbucios irrelevantes.
Numa perspectiva histórica, falta ao PT o que sobrou em Hugo Chávez e
sobra em Cristina Kirchner: a coragem de quebrar muros e, com eles,
resistências ao avanço social.
Chávez retirou a concessão de uma emissora que patrocinou uma tentativa
de golpe contra ele. Kirchner não descansou enquanto não colocou de joelhos o
grupo Clarín, obrigado enfim, depois de anos, a abrir mão de seu monopólio.
No Brasil do PT, a Globo segue impávida – recebeu 6 bilhões de reais em
verbas publicitárias estatais nos últimos dez anos — e com ela os três ou
quatro grupos que controlam a mídia brasileira.
É nesse universo que Miruna combate seu combate – numa solidão
desesperadora que a história registrará como um dos mais lindos momentos de um
tempo sob tantos aspectos frustrante.
*Por Paulo Nogueira, do sítio http://www.diariodocentrodomundo.com.br
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