Por trás da truculência exibida pelos deputados Moreira e Heinze em suas intervenções em uma audiência pública no município de Vicente Dutra, em 2013, há método, ideologia e financiadores. |
Sul21 - por Marco Weissheimer - Uma boa maneira de entender as posições políticas defendidas
por nossos parlamentares e governantes é dar uma olhada em suas prestações de
contas eleitorais, especialmente no item “doações de campanha”. As relações de
afinidade entre doadores e candidatos nem sempre são diretas e automáticas. É
comum grandes empresas doarem para candidatos de diferentes orientações
políticas, mas elas costumam ter lá suas preferências. Mas, se é verdade que o
alinhamento de posições nem sempre é direto e automático, também é verdade que,
raramente, o candidato, eleito para um parlamento ou governo, baterá de frente
contra os interesses de seus principais financiadores. Essa é, aliás, uma das
principais razões que explica o conservadorismo dos parlamentos brasileiros, em
nível municipal, estadual e federal. As campanhas eleitorais são cada vez mais
caras e os grandes financiadores têm seus candidatos preferidos.
Vejamos o caso dos deputados federais Luiz Carlos Heinze
(PP) e Alceu Moreira (PMDB), que viraram notícia esta semana pelas declarações
que fizeram contra indígenas, quilombolas, gays e lésbicas (incluídos por
Heinze na categoria de “tudo que não presta”) e em defesa da formação de
milícias privadas armadas por parte dos agricultores para enfrentar “invasões
de indígenas e quilombolas”. Quando olhamos quem foram os doadores das
campanhas dos dois deputados em 2010, fica mais fácil entender seus
posicionamentos políticos. Entre seus principais doadores estão indústrias e
empresas do setor do agronegócio; empreiteiras; setor financeiro e indústria de
armas. Há doadores privados importantes também, como a senadora Ana Amélia
Lemos que doou 50 mil reais para a campanha de seu correligionário Heinze.
A prestação de contas da campanha do deputado Heinze em 2010
aponta uma arrecadação superior a um milhão e meio de reais (R$ 1.557.728,41).
Entre as principais doações que recebeu, destacam-se as seguintes, pela ordem
de valor:
SLC Agrícola S/A – R$ 150.000,00
Bunge Fertilizantes – R$ 70.000,00
Ana Amélia Lemos – R$ 50.000,00
Cosan S.A. Ind. e Com. – R$ 50.000,00
JBS S/A (Friboi) – R$ 50.000,00
Seara Alimentos S/A – R$ 50.000,00
Gerdau – R$ 50.000,00
Associação Nacional da Indústria de Armas – R$ 30.000,00
Máquinas Agrícolas Jacto S/A – R$ 30.000,00
Camil Alimentos S/A – R$ 20.000,00
Fibria S/A – R$ 20.000,00
Klabin S/A – R$ 20.000,00
Marasca Cereais – R$ 20.000,00
CMPE Celulose Riograndense – R$ 16.632,66
Yeda Crusius – R$ 9.000,00
Já a campanha do deputado Alceu Moreira foi mais singela,
gastando apenas R$ 877.428,59. Mas o perfil dos doadores é similar ao da
campanha de Heinze. Entre os principais doares da campanha de Moreira,
aparecem:
Bracol Holding Ltda. – R$ 100.000,00
Gerdau – R$ 60.000,00
CMPC Celulose Brasil – R$ 53.855,31
Construtora Giovanella – R$ 30.000,00
Associação Brasileira de Sementes e Mudas – R$ 20.000,00
Fibria Celulose S/A – R$ 20.000,00
Construtora e Pavimentadora Pavicom – R$ 20.000,00
Associação Nacional da Indústria de Armas – R$ 20.000,00
A prestação de contas completa dos dois deputados, com a
lista completa de doadores pode ser consultada na página do Tribunal Superior
Eleitoral.
Os números acima mostram a importância do projeto que está
sendo votado no Supremo Tribunal Federal (STF), determinando o fim das doações
de pessoas jurídicas nas campanhas. Não vai resolver todos os problemas da
democracia brasileira, mas exigiria uma mudança significativa no perfil de
financiamento das campanhas. Os mesmos números ajudam a entender também porque
a Reforma Política, entra ano e sai ano, não avança no Congresso. O atual
modelo de financiamento de campanhas alimenta um modelo de lobby que favorece
amplamente o grande capital. Ajuda a entender, por exemplo, por que a bancada
do agronegócio é imensamente superior à bancada dos trabalhadores rurais e
urbanos, agricultores familiares, quilombolas, gays, lésbicas, indígenas e
outras categorias que, na definição do deputado Heinze, “não prestam”.
Por trás da truculência exibida em suas intervenções em uma
audiência pública no município de Vicente Dutra, em 2013, há método, ideologia
e financiadores. Não são manifestações isoladas de desequilibrados, mas sim a
face mais troglodita de uma visão de mundo que não reconhece a existência de
índios, quilombolas, gays e lésbicas. Ou melhor, até reconhece, desde que eles
não venham “meter o pé na nossa terra”. As prestações de contas das campanhas
desenham essa ideologia com contornos nítidos e muito didáticos.
Declarações de Heinze e Moreira serão tema de debate público
na Assembleia
O Presidente da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da
Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, deputado Jeferson Fernandes, e o
deputado federal Dionilso Marcon, membro da Frente Parlamentar em Defesa dos
Direitos Humanos da Câmara Federal, convidam para um debate público sobre a
violação dos direitos humanos presentes nas declarações dos deputados federais
Luiz Carlos Heinze (PP) e Alceu Moreira (PMDB) contra quilombolas, indígenas,
gays e lésbicas.
O objetivo do encontro é articular as representações
institucionais e os movimentos sociais no repúdio às declarações e no
enfrentamento, com ações concretas, das ameaças de retrocesso nos direitos
humanos que partem de determinados segmentos sociais.
O debate será realizado na próxima segunda-feira, dia 17 de
fevereiro, às 18 horas, na sala João Neves da Fontoura, Plenarinho, 3º andar da
Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul (Praça Marechal Deodoro, 101 - Porto Alegre/RS).
*Via http://www.sul21.com.br/ ** Grifos deste Blog
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