Por Lucio Carvalho*
Uma cidade não vive sem ônibus circulando, mas vive perfeitamente
bem com escolas fechadas. É o que posso concluir ao comparar greves de duas
categorias distintas em solo portoalegrês.
A greve atual, dos rodoviários, é manchete diária dos
jornais da cidade, suas questões são mediadas por juízes do trabalho, jornalistas
opinam sem parar e exigem a opinião das autoridades, que diligentemente
apresentam-se diante às câmeras para dar satisfações, apontar os problemas
econômicos e sociais decorrentes da greve e lavar as mãos de suas
responsabilidades, esta que parece ser sua especialidade.
A greve dos rodoviários é um incômodo social por si só,
sem dúvida. Isto está bastante claro para todos os porto-alegrenses.
O mesmo não pode ser dito das greves dos professores.
Quando os professores da rede púbica entram em greve, não se faz 1/10 do
barulho midiático que está se vendo agora. Não só seus sindicalistas não
escutados como os governantes demonstram abertamente seu desprezo ao não
conceder uma audiência sequer aos seus representantes. As famílias dos alunos
também não são chamadas a depor sobre o prejuízo decorrente da falta de aulas.
Ninguém está nem aí, como se diz.
Afinal, por que a diferença?
Elementar, caro amigo. Com diria Caetano Veloso, sejamos
materialistas. A greve dos rodoviários atrapalha a vida de empregadores, como
as demissões e descontos de dias parados já atestam. O incômodo reside em que a
ordem econômica é afetada nos processos produtivos. É tarefa das mais simples
constatar quem são os que mais gritam e mais têm seus gritos repercutidos mídia
afora. São os empresários, é a CDL, etc, etc.
A greve dos rodoviários é “criminosa” sobretudo porque
atinge essas pessoas e suas atividades econômicas.
Já a educação, principalmente a pública, sabidamente não
é um serviço essencial. Não serão contabilizados lucros cessantes de ninguém,
muito menos dos próprios alunos. Ou principalmente deles, mesmo que isso
evidencie um projeto educacional de quinta categoria. Ou nem isso. É o tipo de
greve que os governantes podem desdenhar alegremente, porque afeta especialmente
a população pobre.
É o que aconteceu no ano passado no Rio Grande do Sul. E
no ano retrasado também. E assim por diante.
É por isso e somente por isso que os rodoviários têm uma
dinamite nas mãos e os professores no máximo uma bombinha rojão. Se a greve dos
rodoviários chegar a março sem solução e os professores não aproveitarem para
fazer barulho junto a estes, podem esquecer de fazer greves ad infinitum. Ou
mudar de categoria. Se a questão for meramente salarial, jornada e condições de
trabalho, demorou.
.oOo.
*Lucio Carvalho é coordenador-geral da revista digital
Inclusive – Inclusão e Cidadania (www.inclusive.org.br) e autor de Morphopolis
(www.morphopolis.wordpress.com).
-Via http://www.sul21.com.br/
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