O vandalismo mascarado é a marca da tática de guerrilha
urbana black bloc. Tapam o rosto por uma razão óbvia: sabem que o que fazem é
ilegal.
Certo, no atual sistema político brasileiro, de maioria
eleita pelo poder econômico, nem tudo que é legal é justo. Não decorre disso
autorização para a depredação do que estiver pela frente. Porque há, sim, no
Brasil, um Estado de direito que, se não atende a todas as necessidades da
população, de outra parte – e isto é notório no governo Dilma – cada vez mais
amplia espaços, instituições e canais de acesso aos serviços públicos e os
qualifica.
Para os black blocs, nada disso importa. Eles desprezam o
caminho democrático optando pela ação direta de enfrentamento a tudo o que se
interpuser aos seus objetivos (que, aliás, quais são mesmo?). Socialmente, o
fenômeno até pode ser complexo, mas sua consequência é simples. E trágica. A
mais nítida atende pelo nome de Santiago Andrade, cinegrafista que, atingido
por um rojão black bloc, perdeu a vida.
Há lições neste sofrível episódio. E a primeira é: nenhuma
luta será vitoriosa se, para alcançá-la, se pisotear a democracia.
Mas recentemente, a pretexto de defenderem o direito dos
agricultores ante a imposição legal (e cuja justeza deve ser ainda melhor
avaliada) de demarcação de terras indígenas, dois deputados gaúchos agiram como
black blocs. Incitando à desobediência, sugeriram aos agricultores que formem
milícias e impeçam os agentes da lei de agir.
O que os justifica? A ideia de que há, no Brasil, inclusive
com a cumplicidade do Conselho Indigenista Missionário, portanto, da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, uma orquestração de índios,
quilombolas, gays, lésbicas (o que, na opinião de um deles, seria “tudo o que
não presta”) contra os trabalhadores rurais. Uma estultice de fazer inveja ao
mais desequilibrado dos black blocs.
Quem jura defender a Constituição e incita o ódio pregando
ação armada a um só tempo rasga a lei e desonra sua palavra. Ninguém deve fazer
isso. E muito menos, em nome da bravura sempre pacífica de homens e mulheres do
campo, disseminar violência, preconceito e xenofobia. O estímulo a tais
vergonhas renega e macula a própria história de lutas da agricultura familiar.
Ou alguém acha que o uso do termo “colono” como sinônimo de sujo, feio e sem
instrução não é obra da mais pura discriminação?
Em nome desses lutadores sociais, entre os quais me incluo
porque com eles estive sempre, não se cometerão crimes ou se espalhará a dor e
o ódio. Homens e mulheres da terra sabem o valor da igualdade. Lutaram e ainda
lutam por isso. Quem preferir outro mundo, que assuma o crime propagado. Mas
não em nosso nome.
*Elvino Bohn Gass é Deputado federal (PT-RS) e secretário agrário nacional do
PT
-via http://portal.ptrs.org.b/ -- (charge do Lattuf)
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