A indignação tucana é um
primor de seletividade e parcialidade: só há indignação se houver suspeita de
malfeito que envolva o PT ou Dilma Rousseff.
Impressiona a indignação
seletiva do PSDB com casos de corrupção. Mas a frase, para ser verdadeira, não
pode terminar aí.
É que a indignação tucana é
um primor de seletividade e parcialidade: só há indignação se houver suspeita
de malfeito que envolva, mesmo que com meros sinais de fumaça, o PT ou Dilma
Rousseff, seja o governo, seja a pessoa.
Qualquer denúncia urdida na
grande imprensa - das rotativas de Veja às empresas de comunicação da Globo,
passando pelos jornais Folha de S.Paulo e Estado de São Paulo – que tenha poder
de desgastar o PT ou o governo Dilma Rousseff, recebe desdobramentos
previsíveis e imediatos por parte do PSDB.
No Senado, a indignação
assoma à tribuna juntamente com Álvaro Dias. Na Câmara, perfaz o espetáculo
“indignadosinho de sempre” emulado por Carlos Sampaio. Na blogosfera tucana
repercute nos textos de Augusto Nunes e Reinaldo Azevedo, ambos abrigados no
portal de Veja.
Se é contra o PT/Dilma
Rousseff a força da marola é potencializada em tsunami indonésio.
Mas se o assunto é corrupção
envolvendo próceres tucanos, o silêncio, além de constrangedor, é sepulcral. É
o caso do cartel permeando contratos dos trens de São Paulo. É o caso da máfia
do ISS também em São Paulo. É o caso do mensalão tucano, envolvendo o deputado
Eduardo Azeredo e dando origem aos esquemas criminosos chancelados por Marcos
Valério, personagem-chave e onipresente no chamado mensalão do PT.
Este maniqueísmo tucano é o
mesmo maniqueísmo midiático que vem solapando a fugidia credibilidade de
veículos de nossa grande imprensa, acima nomeados. A mídia tonifica a
indignação tucana com supostos escândalos envolvendo seu inimigo figadal, o PT,
e reduz a poucos tons de cinza a repercussão de maracutaias das grossas
envolvendo os quase vinte anos de poder tucano em São Paulo, passando pelos
governos Covas, Alckmin e Serra.
É tão desigual – e tão
partidarizada – a cobertura de uns e de outros que não tardará o dia em que a
Associação Nacional de Jornais e o Instituto Millenium irão requerer participação
no Fundo Partidário, a par com o PSDB, PT, PMDB, DEM, PSOL.
A defesa do PSDB é valsa de
uma nota só. “Tudo é armação. Não passa de perseguição. Isso se chama
aparelhamento do Estado”. No caso do “trensalão tucano” nenhum porta-voz
pessedebista estranhou que o procurador Rodrigo de Grandis tenha justificado a
perda do prazo de cooperação com as autoridades suíças afirmando que havia
arquivado numa pasta errada os ofícios do Ministério da Justiça que continham
os pedidos de cooperação sobre o cartel da CPTM. E o engavetamento, ôpa!, o
arquivamento em pasta errada vem desde 2010. Não é algo por demais estranho? E
exótico, mesmo para os padrões brasileiros?
Ninguém viu Álvaro Dias no
Senado pedindo instalação de CPI para investigar o cartel dos trens de São
Paulo e muito menos propor a convocação do procurador De Grandis para receber
aula da Comissão Permanente do Senado sobre a arte de arquivar corretamente
documentos. A TV Câmara não transmitiu nenhum discurso estabanado de Carlos
Sampaio descendo a lenha em Rodrigo De Grandis. Trens, então, nenhum piado.
Ao mesmo tempo, sempre em
conluio com a grande imprensa, o PSDB se fez de morto com a recente operação em
que a Polícia Federal apreendeu 445 quilos de cocaína em helicóptero do senador
mineiro Zezé Perrela. Optou por fazer gênero indignação zero. Também nenhum
chiado. Silentes estavam, calados ficaram. E por quê? Simples, é muito delicado
colocar em uma mesma frase palavras como Cocaína – PSDB – Aécio. E no caso do
helicóptero o que mais se especulou foi a muito próxima amizade entre Zezé
Perrela e o senador Aécio Neves, ambos torcedores apaixonados do Cruzeiro, mas
não só isso, atestam muitos perfis nas redes sociais da internet.
Fato é que imagem de
helicóptero com quase meia tonelada de cocaína apreendida, sendo de propriedade
de um figurão da política mineira e cujo piloto é lotado como assessor de seu
filho, deputado na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, jamais deixaria de
ser capa de revistas semanais e de jornais de circulação nacional.
Mas no Brasil, país que
tanto se preza a liberdade de imprensa, simplesmente deixou de ser capa. No
caso de Veja, a capa foi sobre games. Peculiar, não? E é assim que com pés e
mão de barro desejam empunhar a bandeira da moral e dos bons costumes, onde imoralidade
e maus costumes só se pode ver no lado do governo.
Ridículo se não fosse
pateticamente risível.
*Por Daniel Quoist - Créditos da foto: Orlando
Brito / OBritoNews
Fonte: http://www.cartamaior.com.br
Prezado, Júlio.
ResponderExcluirSe me permitires, gostaria de manifestar minha opinião sobre esta matéria.
Embora muitas vezes eu também não goste de algumas atitudes de alguns aloprados das oposições, tenho de reconhecer ser perfeitamente normal e democrático a oposição de ideias, de conceitos, de modos de agir no governo e dos partidos que lhe dão sustentação.
O que não aceito e penso ser totalmente antidemocrático é o papel da chamada grande imprensa escrita, falada e televisionada. A imprensa deve ser apartidária. O direito à informação correta, assim como o ar que respiramos é um direito fundamental.
Além de tudo é uma mesmice, uma falta de bom senso, aproveitando o termo que foi "redescoberto" por esta mesma mídia. Uma "notícia" catastrófica urdida lá pela redação sombria de algum veículo paulista repercute por todos, em uníssono, por todos os lugares do país, até mesmo no boqueirão.
Depois, é como diz o Lula. Lendo e ouvindo, parece que o país quebrou!
Agora mesmo a mídia canalha repercute que a inflação de 2013 de 5 vírgula alguma coisa é "a maior dos últimos anos", o que não deixa de ser uma verdade. Mas uma meia-verdade. Por quê é uma meia-verdade, como todas e como tudo que eles escrevem e divulgam? Simples e elementar: porquê, apesar de ter sido alta, está dentro do teto previsto para o período! Esta é a outra parte da verdade. A parte que eles escondem. É o que chamamos de manipulação da notícia.
Agora, veja bem, se a gente que é um pouco "estudado", que lê, bebe de outras fontes, analisa e questiona pois conhecedores das artimanhas dos bastidores midiáticas, muitas vezes cai no "conto da sereia" das falsidades, imagine as pessoas simples, que não têm tempo para pensar e são presas fáceis dos "noticiários", das novelas e das anas-marias-bragas da vida?
O remendo tem apenas uma solução, aliás, solução adotada pela imensa maioria dos países democráticos do planeta: a chamada regulação da mídia que, nada mais é do que evitar o acúmulo de emissoras e jornais nas mãos de um grupo econômico e a chamada à responsabilidade, à justiça, pelas notícias veiculadas e comprovadamente falsas.
É claro que esta depuração pode ser feita ao natural, como de fato já está sendo feita, haja vista o número crescente e constante da perda de audiência, de assinantes, de leitores e de telespectadores. Perdas guardadas às sete chaves pela mídia canalha mas perda percebida por todos nós. Falta, entretanto, um golpe final, o corte do oxigênio que lhes garante a sobrevida: a veiculação de anúncios pelo próprio governo. Coisa elementar, digo eu.