Acabo de ver a seguinte notícia no site do Estadão:
(…) Sete dias após sua criação, o site feito para obter doações ao
ex-deputado José Genoino, condenado no processo do mensalão, já arrecadou, até
a manhã desta quinta-feira, 16, mais de R$ 450 mil. As informações são do
coordenador do Núcleo Jurídico do PT, Marco Aurélio Carvalho. O valor
corresponde a mais de 67% do total da multa imposta ao petista pela, no valor
de R$ 667,5 mil. O ex-presidente tem até o próximo dia 20 para pagar a multa.
A notícia tem vários significados. O principal deles nem é se Genoíno
terá tempo de juntar o montante necessário para pagar a dívida em dia.
Possivelmente, terá. Mas o principal é que há um número crescente de pessoas
que acreditam na inocência de Genoíno e, por tabela, consideram que o
Judiciário cometeu um erro gravíssimo ao condená-lo.
Essas pessoas estão dispostas a lutar pela verdade. Não ganham nada ao
defender Genoíno a não ser insultos. São ridicularizadas, insultadas,
sabotadas. É cruel se posicionar na contramão de um linchamento midiático. É
assim mesmo. É muito fácil defender uma pessoa que o senso comun defende. Tipo
a Princesa Diana. Difícil mesmo é nadar contra a corrente.
Entretanto, há gente inclusive querendo se candidatar este ano a vaga de
deputado federal tendo como bandeiras os erros do Supremo Tribunal Federal no
julgamento da Ação Penal 470, e este novo conservadorismo midiático do
judiciário. Eu mesmo conheço um quadro importante, de um partido grande, uma
figura respeitada no meio jurídico, que vem levantando essas bandeiras e está
disposto a levá-las à luta política.
Com a solidariedade de seus admiradores, eleitores, amigos, Genoíno vai
conseguir pagar a sua multa. Mas a maior luta será limpar seu nome. A anulação
da Ação Penal 470 será uma das batalhas políticas mais importantes da década,
ou mesmo do século. Mais importante ainda porque não deverá contar com ajuda do
governo, que é constrangido, pelas circunstâncias, a aceitar as decisões do
Judiciário.
Os cidadãos, não. Numa democracia, os cidadãos são livres para contestar
tudo, inclusive uma decisão judicial. São obrigados a cumpri-la, mas não são
obrigados a se resignar ao que consideram injusto. A liberdade é um valor
democrático que não se ajoelha diante de nenhum magistrado de capa preta. A
própria ideia de justiça, enquanto uma utopia humana, não deve ser confundida
com a justiça burocrática do Estado.
Pascal, em seus Pensamentos, nos lembra que “nada é tão falível como
essas leis que reparam as faltas: quem lhes obedece, porque são justas, obedece
à justiça que imagina, mas não à essência da lei, que está encerrada em si: é
lei e nada mais”.
Ou seja, quando obedecemos a uma decisão judicial, sequer estamos nos
curvando à lei em si, quanto mais à justiça; estamos tão somente nos submetendo
a uma interpretação empírica e circunstancial da lei, feita por um magistrado
propenso, como qualquer ser humano, ao erro. Nenhum juiz detêm a verdade sobre
a lei, e nada é mais absurdo do que a pretensão napoleônica de alguns ministros
do STF de acharem que detêm a verdade última sobre a Constituição.
Genoíno é inocente, e tem uma longa história de luta em prol da justiça
social. Joaquim Barbosa não é inocente, e está escrevendo uma história de
parceria espúria com os setores mais reacionários da sociedade.
No tribunal da minha consciência, que é a instância judicial que mais
valorizo, quem deveria estar na Papuda é Joaquim Barbosa. José Genoíno deveria
estar em liberdade, trabalhando em prol da sociedade, para o bem do Brasil.
*Por Miguel do Rosário no blog 'O Cafezinho'
http://www.ocafezinho.com/
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