Por Paulo Ferreira*
Em recente entrevista a jornais
do RS, Olívio Dutra afirmou que a condenação e prisão dos companheiros Delúbio
Soares, José Genoino e José Dirceu foi uma resposta aos processos de corrupção
que permeiam a política nacional, independentemente de partidos. Com sua fala,
o dirigente Olívio Dutra comete vários equívocos: despreza o conjunto das
resoluções do partido sobre o tema – AP 470 para nós e Mensalão para a oposição
e para a mídia; não leva em conta a esperada postura de um dirigente partidário
em defesa de seu partido; opina isoladamente à margem das instâncias
partidárias; e diz acreditar que foi a classe política a condenada na AP 470,
como “querem” as ruas, quando de fato o que tivemos foi uma ação
político-jurídica com apoio midiático avassalador com o objetivo de
criminalizar e condenar a cúpula de um só partido, o Partido dos Trabalhadores.
E se viesse acompanhada com o impeachment de Lula, como chegou a ser aventado,
seria a cereja do bolo.
O dirigente Olívio Dutra
equivocou-se no momento e no conteúdo de suas manifestações. O dirigente Olívio
Dutra esquece, como destacado pelo governador Tarso Genro em recente artigo,
que forças conservadoras ou reacionárias (justamente as responsáveis por todas
as mazelas políticas, econômicas e sociais e, estas sim, sempre impunes durante
séculos em nosso país), derrotadas nas urnas pela vontade popular, “em
determinados assuntos ou em determinadas circunstâncias, podem exercer com
maior sucesso a sua hegemonia, sem desconstituir a ordem jurídica formal,
mantendo mínimos padrões de legitimidade”.
O dirigente Olívio Dutra acusa o
PT – nas figuras dos companheiros José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares –
de ser conivente com a corrupção. Como esses companheiros podem ser acusados de
conivência com a corrupção se após devassa durante cinco anos feita pela Receita
Federal e Polícia Federal na vida privada dos réus e do Partido dos
Trabalhadores nada foi encontrado, absolutamente nada de atípico ou anormal no
patrimônio dos companheiros. Continuam vivendo no padrão compatível com seus
rendimentos.
De onde o dirigente Olívio Dutra
tira tanta certeza de que houve desvios comportamentais dos dirigentes
partidários à época?
O caso de José Genoíno é então o
mais emblemático. Militante de esquerda torturado pela ditadura civil-militar;
deputado constituinte junto com Olívio Dutra; homem reconhecido até mesmo por
seus adversários políticos como pessoa avessa ao tratamento de questões
financeiras. José Genoíno nunca mexeu com dinheiro. Quando deputado se negava
até mesmo a indicar emendas parlamentares – devolvendo os valores a que tinha
direito ao Tesouro Nacional -, foi julgado e condenado a 6 anos e 11 meses
somente pelo fato de ser o presidente do PT à época dos acontecimentos e ter
assinado os dois empréstimos bancários dos bancos BMG e Rural. Empréstimos
tomados e pagos pelo PT.
Caso Olívio Dutra fosse
presidente nacional do partido, como já foi na década de 80, e tivesse ele
próprio somente assinado os mesmos empréstimos poder-se-ia afirmar que Olívio
Dutra teria incorrido em desvios comportamentais e corrupção?
O dirigente Olívio Dutra faz
coro, eco e assina em baixo dos discursos mais conservadores feitos contra o
nosso partido e seus dirigentes. Por essa posição foi elogiado em editoriais
dos grandes jornais, artigos e manifestações de reconhecidos personagens
anti-petistas que se utilizaram das palavras de Olívio Dutra para jogar nosso
partido na lama das negociatas e do que há de mais nefasto na política
brasileira. Ao contrário de Olívio Dutra, juristas como Ives Gandra Martins,
que nunca escondeu suas posições ideológicas (e legítimas) à direita e que
sempre discordou frontal e firmemente de petistas como José Dirceu, afirmam que
a condenação do ex-ministro da Casa Civil se deu sem provas e que “a partir de
agora, mesmo um inocente pode ser condenado com base apenas em presunções e
indícios”.
O jurista alemão Claus Roxin,
formulador da teoria do “domínio do fato”, utilizada por Joaquim Barbosa e pelo
ex-procurador Roberto Gurgel para fundamentar a decisão pela condenação,
avaliou que esta foi usada de forma errada pelo presidente e demais ministros
do STF. Disse em entrevista a jornais brasileiros: “é interessante saber que
aqui também há o clamor por condenações severas, mesmo sem provas suficientes.
O problema é que isso não corresponde ao direito”.
O que tem a dizer Olívio Dutra da
postura de centenas de personalidades, entre juristas, advogados, professores,
parlamentares e dirigentes partidários, que assinam manifesto criticando o
presidente do Supremo por “açodamento”, “ilegalidade” e “desejo pelo espetáculo”
nas prisões de réus da AP-470? O manifesto tem à frente juristas como Celso
Bandeira de Mello, professor emérito da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo (PUC-SP) e Dalmo de Abreu Dallari, professor emérito da Universidade de
São Paulo (USP), e diz que as prisões foram um “lamentável capítulo de exceção
em um julgamento marcado por sérias violações de garantias constitucionais”.
O manifesto também destaca que “o
julgamento, que começou negando aos réus o direito ao duplo grau de jurisdição conheceu
neste feriado da República mais um capítulo sombrio”. Para defender a sua tese
de que “funcionou o que deveria funcionar “ Olívio Dutra, que também viveu
processo parecido quando governador do RS, processo que levou o Partido a uma
prévia e a consequente derrota eleitoral- parece esquecer que na ocasião contou
com todo o apoio e solidariedade do nosso partido, inclusive dos companheiros
que estão hoje presos.
Tivesse à época a direção
nacional do PT a mesma postura que o dirigente Olívio Dutra explicita hoje,
certamente nosso governo e o próprio Olívio Dutra passariam à história marcados
pelo carimbo da corrupção. O dirigente Olívio Dutra deve discordar frontalmente
da nota oficial do PT onde se lê que o que aconteceu foi um “julgamento
nitidamente político e alheio à prova dos autos”. E também deve discordar das
notas da ABI, OAB e da CUT, entre centenas de manifestações.
Seria no mínimo educativo que
estas posições defendidas pelo dirigente Olívio Dutra fossem apresentadas e
defendidas nas instâncias partidárias, desde os diretórios municipais até o
próximo Congresso Nacional do partido a ser instalado no próximo dia 12 de
dezembro em Brasília. Quem fala para fora e expõe o partido deve igualmente
apresentar suas posições para a militância.
*Paulo Ferreira é Deputado Federal pelo RS, membro
do Diretório Nacional do PT e vice-líder do PT na Câmara dos Deputados. É natural de Santiago/RS.
http://www.pauloferreira.net.br/
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