Esquerda e direita: isso ainda existe?
E para que serve?
Por Antônio Lassance*
Esquerda e direita são distinções
polares, o que torna tudo ao mesmo tempo relativamente claro, diante do
antagonismo entre ambas, e nebuloso, pois as linhas divisórias nem sempre são
facilmente identificáveis.
Por mais que sejam conceitos antigos e
gastos pelo uso, permanecem firmes e fortes. Enquanto o mundo for mundo e
houver um polo para chamar de Norte, outro para chamar de Sul, haverá razões
para se falar em esquerda e direita.
Não se quer, com isso, dizer que a
maioria das pessoas viva no Polo Norte ou no Polo Sul. Pelo contrário. A
maioria habita e transita pelo centro ou permanece indecisa, razão pela qual
apenas sob circunstâncias bastante específicas, como nas revoluções, o embate
se torna mais polarizado, e as diferenças entre esquerda e direita ficam mais
evidentes.
Nos regimes democráticos
representativos e em tempos de calmaria, a disputa pelo centro e pelos
indecisos é o grande ímã que faz com que esquerda e direita moderem suas
posições para conquistar um espectro mais amplo de eleitores.
A analogia topográfica é útil para
entendermos as vantagens e desvantagens de ainda usarmos a dicotomia. Esquerda,
direita (não vamos nos esquecer de algo fundamental que fica entre ambas, o
centro) servem ao debate político exatamente para isso: termos um referencial,
adotarmos um rumo, identificarmos por que caminhos nos levam cada uma dessas
posições e, ao fim e ao cabo, podermos nos orientar diante de um mundo que gira
o tempo todo.
Sob o signo da Revolução
A separação entre esquerda, centro e
direita nasceu exatamente da topografia revolucionária da Assembleia Nacional
francesa, em 1789. Os representantes das classes convocadas à Assembleia não
apenas estavam posicionados em lados diferentes, mas em alturas distintas. Os
jacobinos ficavam à esquerda e também na parte mais alta do plenário, sendo por
isso chamados de “montanheses”; a turma do centro, moderada e
constitucionalista, era “a planície”; à direita, os aristocratas.
O mundo mudou extraordinariamente,
desde então - esquerda e direita, idem.
Como disse Emir Sader, ambos foram
mudando de roupagem ao longo da história. Ao mesmo tempo, essa origem datada
dos termos traz um legado difícil de ser abandonado, pois ainda nos dá seus
pontos cardeais.
O que diferencia a esquerda da direita
sempre foi e continua sendo sua posição frente ao “status quo”, “ao que aí
está”. A esquerda questiona e fustiga o “status quo” - alguns de modo mais
radical, até revolucionário; outros, de forma mais moderada, reformista. Desde
que incomodem o “status quo”, são esquerda.
Todos os que partem do princípio de que
“um outro mundo é possível”, como se diz no Fórum Social Mundial, são esquerda.
Ou, como lembrou o Flávio Aguiar, “esquerdas”. Para fazer jus ao nome, as
esquerdas precisam dar consequência ao seu pensamento irrequieto e ao
inconformismo em relação ao que está aí semeando e fazendo brotar um outro
Estado, uma outra forma de vida material e imaterial (cultural) e novas
relações sociais. É algo completamente diferente de destruir caixas eletrônicos
de bancos, amassar carros em concessionárias de veículos e espancar coronéis da
Polícia Militar.
A direita, ao contrário, é defensora do
“status quo”, mesmo que, para isso, precise, paradoxalmente, destruir o mundo
que a rodeia. (...)
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Fonte: Carta Maior
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