domingo, 20 de outubro de 2013

O cenário político começa a se definir?



Por Antônio Castro*

Nos últimos dias, os indicadores econômicos brasileiros sinalizaram um cenário bastante tranquilizador. A projeção de crescimento do PIB foi ampliada para 2,5% este ano, superior à média de todos os 8 anos de FHC e mais avantajado que o crescimento dos EUA, Japão, Zona do Euro, Alemanha e Canadá, dentre outros. O Brasil fechará o ano com o 7º PIB do mundo, quase empatado com a Rússia, que está imediatamente à frente. O crescimento industrial também será maior que o esperado (cerca de 2%) e os juros e o dólar estabilizaram-se: aqueles não chegarão aos dois dígitos e a cotação da moeda americana ficará em cerca de R$ 2,25. A balança comercial será positiva e o os investimentos diretos estrangeiros superarão os 60 bilhões de dólares. A inflação ficará folgadamente dentro da banda de variação, inferior a 6%. O índice de desemprego mantém-se muito baixo, numa situação de quase pleno emprego. Mesmo com toda a campanha pessimista da mídia conservadora, o índice de confiança dos empresários brasileiros na economia é o segundo maior do mundo, só superado por seus colegas alemães.

No campo político, a Presidenta pôs o pé na estrada, anunciando bilhões em investimentos por todo o país, o Bolsa Família recebeu o prêmio ISSA, considerado o Nobel dos programas sociais, concedido apenas a cada 3 anos e a miopia dos que se jogaram numa batalha mortal contra o Programa Mais Médicos colocou o Governo ao lado dos pobres em contraposição ao egoísmo das elites.

O resultado de tudo isto não poderia ser diferente: as últimas pesquisas indicam a vitória de Dilma no 1º turno em todos os cenários.

Será natural um esforço de reposicionamento das oposições. A tática de apostar no catastrofismo propagado pelos veículos das 11 Famílias que controlam nossa mídia, que desde princípios do ano ecoavam a volta da inflação, o “pibinho” e o descontrole fiscal, parece não ter fôlego para chegar até outubro do ano que vem.

A surpreendente fusão Eduardo Campos/Marina é um movimento ousado para construir um novo discurso de oposição. Mas traz muitas interrogações e expressa uma enorme instabilidade. Há muito pouco em comum entre o pragmatismo exacerbado de Campos e seu PSB e a “nova política” que Marina queria representar com sua Rede.

Mas a primeira consequência deste movimento é colocar o PSDB em alerta máximo. Ainda preso ao programa neoliberal de FHC, dividido numa guerra civil entre serristas e aecistas e sob severo ataque em seus redutos sagrados de São Paulo e Minas, o PSDB corre sério risco de ser alijado do centro da disputa.

Por isto Lula tem dito que o PT e o Governo não devem atacar Campos/Marina, pelo menos por ora. O PSDB é que deverá fazer isto, energicamente, em curto prazo, sob pena de ver bases regionais e sociais que sempre lhe foram tributárias voar para o novo ninho. A recente reunião de Marina com dezenas de banqueiros, patrocinada pela herdeira do Itaú que a apoia, é um sinal do que está por vir. É bom para o PSDB que este reaja e rápido.

Até o momento não está a conformar-se um cenário com três vias para o ano que vem, mas está a consolidar-se a velha polarização PT/anti-PT, com o PSDB sendo empurrado para fora do ringue.

Os PMDBs (assim, no plural, como deve ser pelo bem da ciência política) começam a pacificar-se após o tumulto político-legislativo posterior às jornadas de Junho e tudo indica que continuarão, em seu ampla maioria, com Dilma. Da grande coalizão montada por Lula (que também é uma fonte de problemas para o Governo e o PT, mas isto é assunto para outra coluna) a maior parte continuará ao lado de Dilma em 2014, construindo palanques em todos os cantos do país e assegurando um enorme e importantíssimo latifúndio televisivo no horário eleitoral.

Não, não estamos dizendo que a eleição está decidida, nem que será fácil para o PT. Há uma enorme turbulência política ainda no ar, com os “Black blocs” pela rua e Copa no ano que vem. O PSDB não começou ainda a reagir à nova dupla queridinha da mídia e tem consistência para isto. O movimento social continua alvoroçado e acha que o Governo não tem atendido suas demandas como merece e que Dilma privilegia aos empresários.

Mas embora ainda exista um elevado grau de incerteza, portanto, a política brasileira parece ir se enquadrando novamente no grande cenário que vem se desenrolando há alguns anos, com o PT no pólo ativo das transformações lentas e cautelosas por um lado, defendendo um projeto calcado na intervenção do Estado e no outro, a oposição, escudada no rentismo e na classe média udenista, defendendo o afastamento do Estado como forma de dar dinâmica à nossa economia. É muito pouco provável que o cenário de 2014 seja diferente disto.

*Antônio Escosteguy Castro é advogado. Via sítio Sul21

Nenhum comentário:

Postar um comentário