Por Antônio Castro*
Nos últimos dias, os indicadores
econômicos brasileiros sinalizaram um cenário bastante tranquilizador. A projeção
de crescimento do PIB foi ampliada para 2,5% este ano, superior à média de
todos os 8 anos de FHC e mais avantajado que o crescimento dos EUA, Japão, Zona
do Euro, Alemanha e Canadá, dentre outros. O Brasil fechará o ano com o 7º PIB
do mundo, quase empatado com a Rússia, que está imediatamente à frente. O
crescimento industrial também será maior que o esperado (cerca de 2%) e os
juros e o dólar estabilizaram-se: aqueles não chegarão aos dois dígitos e a
cotação da moeda americana ficará em cerca de R$ 2,25. A balança comercial será
positiva e o os investimentos diretos estrangeiros superarão os 60 bilhões de
dólares. A inflação ficará folgadamente dentro da banda de variação, inferior a
6%. O índice de desemprego mantém-se muito baixo, numa situação de quase pleno
emprego. Mesmo com toda a campanha pessimista da mídia conservadora, o índice
de confiança dos empresários brasileiros na economia é o segundo maior do
mundo, só superado por seus colegas alemães.
No campo político, a Presidenta pôs o
pé na estrada, anunciando bilhões em investimentos por todo o país, o Bolsa
Família recebeu o prêmio ISSA, considerado o Nobel dos programas sociais,
concedido apenas a cada 3 anos e a miopia dos que se jogaram numa batalha
mortal contra o Programa Mais Médicos colocou o Governo ao lado dos pobres em
contraposição ao egoísmo das elites.
O resultado de tudo isto não poderia
ser diferente: as últimas pesquisas indicam a vitória de Dilma no 1º turno em
todos os cenários.
Será natural um esforço de
reposicionamento das oposições. A tática de apostar no catastrofismo propagado
pelos veículos das 11 Famílias que controlam nossa mídia, que desde princípios
do ano ecoavam a volta da inflação, o “pibinho” e o descontrole fiscal, parece
não ter fôlego para chegar até outubro do ano que vem.
A surpreendente fusão Eduardo
Campos/Marina é um movimento ousado para construir um novo discurso de
oposição. Mas traz muitas interrogações e expressa uma enorme instabilidade. Há
muito pouco em comum entre o pragmatismo exacerbado de Campos e seu PSB e a
“nova política” que Marina queria representar com sua Rede.
Mas a primeira consequência deste
movimento é colocar o PSDB em alerta máximo. Ainda preso ao programa neoliberal
de FHC, dividido numa guerra civil entre serristas e aecistas e sob severo
ataque em seus redutos sagrados de São Paulo e Minas, o PSDB corre sério risco
de ser alijado do centro da disputa.
Por isto Lula tem dito que o PT e o
Governo não devem atacar Campos/Marina, pelo menos por ora. O PSDB é que deverá
fazer isto, energicamente, em curto prazo, sob pena de ver bases regionais e
sociais que sempre lhe foram tributárias voar para o novo ninho. A recente
reunião de Marina com dezenas de banqueiros, patrocinada pela herdeira do Itaú
que a apoia, é um sinal do que está por vir. É bom para o PSDB que este reaja e
rápido.
Até o momento não está a conformar-se
um cenário com três vias para o ano que vem, mas está a consolidar-se a velha
polarização PT/anti-PT, com o PSDB sendo empurrado para fora do ringue.
Os PMDBs (assim, no plural, como deve
ser pelo bem da ciência política) começam a pacificar-se após o tumulto
político-legislativo posterior às jornadas de Junho e tudo indica que
continuarão, em seu ampla maioria, com Dilma. Da grande coalizão montada por
Lula (que também é uma fonte de problemas para o Governo e o PT, mas isto é
assunto para outra coluna) a maior parte continuará ao lado de Dilma em 2014,
construindo palanques em todos os cantos do país e assegurando um enorme e
importantíssimo latifúndio televisivo no horário eleitoral.
Não, não estamos dizendo que a eleição
está decidida, nem que será fácil para o PT. Há uma enorme turbulência política
ainda no ar, com os “Black blocs” pela rua e Copa no ano que vem. O PSDB não
começou ainda a reagir à nova dupla queridinha da mídia e tem consistência para
isto. O movimento social continua alvoroçado e acha que o Governo não tem
atendido suas demandas como merece e que Dilma privilegia aos empresários.
Mas embora ainda exista um elevado grau
de incerteza, portanto, a política brasileira parece ir se enquadrando
novamente no grande cenário que vem se desenrolando há alguns anos, com o PT no
pólo ativo das transformações lentas e cautelosas por um lado, defendendo um
projeto calcado na intervenção do Estado e no outro, a oposição, escudada no
rentismo e na classe média udenista, defendendo o afastamento do Estado como
forma de dar dinâmica à nossa economia. É muito pouco provável que o cenário de
2014 seja diferente disto.
*Antônio Escosteguy Castro é advogado. Via sítio Sul21
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