Por Alexandre Haubrich*
Esse é um texto ao qual dedico um tempo
que eu não tinha. Mas que dedico esse tempo por entender ser um texto
necessário, não apenas para ressaltar uma posição mas também para dialogar com
bons companheiros que defendem outra abordagem.
Quero explicar aqui os motivos pelos
quais não me engajei na campanha do Sindicato dos Jornalistas do RS, "Sem
jornalista não tem informação".
Em primeiro lugar, discordo da frase
fundamental da campanha. O que é jornalista? Quem reproduz as informações a
partir de determinada técnica? Mas que técnica é essa através da qual as
palavras são usadas para atacar movimentos sociais, para manter a organização
social injusta, para defender o opressor? É a mesma técnica que uso para fazer
o oposto? Não pode ser. Não sei se o jornalismo acabou, mas algo sem dúvida
está mudando com a internet, mesmo que a estrutura midiática brasileira siga
inalterada. Quando essa estrutura for mexida, bom, aí sim o questionamento
sobre o que é o jornalista será não só presente, mas básico. Todos somos
jornalistas. Com ou sem diploma, com ou sem emprego de jornalista. Todos
produzimos informação, de acordo com nossos próprios óculos, nossas próprias
técnicas, nossa próprias limitações pessoais e/ou impostas pelo meio. Cada vez
mais, ou todos somos jornalistas ou ninguém mais é.
Com a produção de informação
democratizada - e é isso o que busco - "o bailan todos o no baila
nadie".
Nesse sentido, toda informação
disponibilizada se coloca em disputa com as outras. Disputa por destaque, por
um lado, mas, fundamentalmente, disputa ideológica. É "invasão" ou
"ocupação"? Isso não está dado. Está em disputa.
Me considero, sim, um jornalista. Mas,
antes disso, sou um ser humano. A "ética do jornalista não é diferente da
ética do marceneiro". E, no meio do caminho entre ser um ser humano e ser
um jornalista, sou um militante social. Quer dizer, atuo politicamente de forma
consciente em busca de um fim. Sou um jornalista na medida em que a forma pela
qual atuo politicamente é, fundamentalmente, a transmissão de informações.
Os jornalistas que trabalham nos
conglomerados de comunicação, de uma forma ou de outra estão do outro lado.
Conscientes ou não do papel que desempenham, estão a serviço do aparelho
ideológico das elites. Os que lá se infiltram tentando "mudar por
dentro" estão tentando, estão, de certa forma, do meu lado, mas escolheram
uma trincheira que, no fim das contas, nos coloca em posições frontais. Os
outros se dividem em dois: os que estão lá achando que o que fazem as empresas
para as quais trabalham é neutro, imparcial, informação pura, e todo o resto é
publicidade; e os que sabem muito bem que tudo isso é uma grande bobagem, que a
visão sobre o mundo está em constante disputa entre os "de baixo" e
os "de cima", e que não é possível escolher não estar em nenhum dos
lados.
Não vejo o jornalismo como uma simples
transmissão de informações brutas. As informações são preparadas e transmitidas
a partir do viés de quem a prepara e transmite, e esse viés é construído pelo
indivíduo e por todo o meio que está em sua volta. Conscientemente ou não, o
que se dá é uma disputa, inserida na dinâmica da luta de classes, em que a
mídia empresarial é o aparelho ideológico dos dominantes, e a mídia alternativa
precisa ser o aparelho ideológico dos dominados.
Não posso, enquanto militante social,
defender aumento de salário ou melhores condições de trabalho para quem
trabalha para o outro lado. Seria como soldados entrarem em greve por melhores
condições para os soldados adversários. Não faz qualquer sentido. Ao mesmo
tempo, não poderia ser coerente enquanto militante socialista se defendesse
aumento do piso para jornalistas enquanto o salário mínimo não chega à metade
desse piso. Lamento se não compreendi algo no caminho, mas não posso defender
melhores condições de trabalho para quem atua - ou trabalha para uma empresa
que atua - sistematicamente contra os trabalhadores.
Por tudo isso, a camisa e o boné que
visto são outros, com todo o respeito aos bons companheiros que estão à frente
ou participando dessa campanha. Não visto a mesma camisa que vestem os cães de
guarda dos barões da mídia, ainda que, por diversas razões, jornalistas
"do lado de cá" o façam.
Antes de ser jornalista, sou um
militante. Não tenho "colegas", tenho companheiros de luta.
* Alexandre
Haubrich é jornalista e Editor do sítio Jornalismo B
http://jornalismob.com/ (Pescado do Blog do Gilmar da Rosa)
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